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AINDA PLANO
Exposição fotográfica no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS)

Projeto selecionado dentro do programa Nova Fotografia 2021.


Curadoria e texto curatorial de Sabrina Moura

Num Brasil que se narra a partir de sua costa litorânea e da noção de progresso sudestino, as nomenclaturas que hierarquizam seu território têm sido postas em questão. A história nos mostra, aliás, que os mitos associados às regiões brasileiras não são fixos e movem-se ao sabor das economias que escavam e sustentam esse quase-continente. Foi assim nos tempos de colônia, quando o território que veio a ser nomeado “Nordeste" assumia uma posição central na economia da cana de açúcar. Já no século XIX, com a ascensão do café e a crescente industrialização ao sul do país, o Brasil semiárido passou a ser designado como seco, estéril, perdido em algum lugar do passado — posto que "atrasado" em relação ao Brasil tropical.

Para além dos climas e geografias que atravessam essas narrativas, a região Nordeste é palco de urbanidades que perturbam o imaginário regionalista dos sertões vermelhos, brutos, bravos — como diria Câmara Cascudo. É desse “Nordeste para além de si mesmo” que o fotógrafo e arquiteto Pedro Levorin extrai as imagens que compõem a mostra Ainda Plano.

Realizado em 2019 nos municípios de Monte Santo, Uauá e Curaçá (Bahia), o ensaio apresentado percorre as paisagens e fachadas das casas que povoam estes sertões, tecendo uma mirada contemporânea aos modos de viver sertanejos. A partir da referência seminal da fotógrafa Anna Mariani que, entre os anos 1970 e 1990, documentou as fachadas de platibanda em diversos estados nordestinos, Pedro indica continuidades, associa novos grafismos e texturas a esses saberes construtivos. Em suas palavras, essas fachadas são lidas como uma "permanência cultural específica, que segue acontecendo sob outro contexto material daqueles que as produzem". Aqui, o emprego do porcelanato — um revestimento industrial quase onipresente nas casas brasileiras, de Norte a Sul — é não só signo dessas atualizações, como também reflexo do vigor do setor industrial da construção civil e da prática da construção popular alinhados com as transformações sociais que marcaram a entrada do Brasil no século XXI, sob a presidência de Luís Inácio Lula da Silva.

A mirada de Pedro Levorin nos guia pelas arquiteturas contemporâneas dos sertões, contrapondo-se aos estigmas que amarram a região ao imaginário antimoderno, cristalizado, desde o século passado, pela literatura das secas. Nesse trajeto expositivo, testemunhamo parte de um Nordeste interior atravessado por mudanças, fonte inesgotável de técnicas, saberes e formas que ampliam o repertório das expressões de culturas visuais e materiais vistas no Brasil.

Registros fotográficos   Julia Thompson